Maria acordou muito cedo porque os pais lhe tinham prometido uma surpresa para aquele dia. Porque, claro, não era um dia qualquer. Era um dia de anos. O dia dos 4 anos. Ela não suspeitava de nada e se lhe pedissem para imaginar o que seria a surpresa, não sabia o que dizer nem o que inventar. Por isso restava-lhe esperar que o pai ou a mãe acordassem. E assim fez.
Depois do pequeno almoço tomado, esperar tornou-se ainda mais difícil.
Não havia forma de a surpresa aparecer.
E só mesmo quando já estavam a sair de casa é que o pai lhe disse:
– “Não Maria, hoje não vamos para o carro”
– “Não? Então, pai, como vamos?” – respondeu a Maria
O pai percebeu que aquela pergunta significava que a rotina do carro estava tão instalada que não havia outras alternativas para ela.
O pai respondeu então:
– “Hoje vamos de bicicleta!”
– “De bicicleta??! Como fazemos quando brincamos?” – perguntou a Maria com os olhos a rirem-se.
O pai também se riu, ao mesmo tempo que dizia:
– “Sim, é isso mesmo, Maria”.
E assim foi.
Demoraram menos tempo.
Divertiram-se mais.
Disseram mais “olás” pelo caminho.
Viram coisas novas (como aqueles peixinhos pintados na casa amarela)
E o pai já não precisou de ir correr ao final da tarde
E, por isso, chegou mais cedo a casa.
Por que razão não fariam eles aquilo mais vezes?
Mas afinal porque iam de carro para a escola todos os dias
O pai não tinha gostado de ir também?
Se calhar tinham sido muitos “porquês” para o pai e ele não soube responder.
Afinal os adultos não tinham de saber tudo, tinha-lhe dito a professora.
Maria adormeceu a imaginar como seria bom fazer anos todos os dias…
Alexandra Monteiro
(Artigo originalmente publicado no Diário de Aveiro de 17/12/2015)